Blog

Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio porque esse não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,

depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

 

( Carlos Drummond de Andrade )

(Publicado em Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 108 e 109)

Imagem: “Campo de Flores Amarelas” – Vincent van Gogh.”

Deixe um Comentário